Sem registro 90% do patrimônio histórico está em perigo

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Sem registro 90% do patrimônio histórico está em perigo

Se nós que somos seres civilizados precisamos ter um registro, quanto mais os patrimônios históricos existentes no país. Acontece que para recuperar algumas edificações é preciso registro documentais e fotográficos relacionados a estrutura e estética do imóvel. Na linguagem técnica, um levantamento cadastral.

O levantamento cadastral vai servir de base para os trabalhos de restauração ou até a reconstrução do patrimônio. No entanto, segundo coordenador geral de projetos da Defesa Civil do Patrimônio Histórico (Defender), Telmo Padilha, 90% do patrimônio histórico do país não dispõem desse levantamento. Caso essas edificações sejam destruídas incêndios ou enchentes, estarão completamente perdidas. A Defender é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) gaúcha que atua desde 2002 na defesa do patrimônio histórico e artístico, conforme publicado na Agência Brasil/Daniel Mello:

A inundação que deixou o município paulista de São Luiz do Paraitinga submerso e danificou construções do século 19 deve servir de alerta para que sejam catalogados outros sítios históricos como forma de proteger o patrimônio, na avaliação de Padilha. “Existem países que passaram por guerras, que foram totalmente destruídos e reconstruíram”, ressaltou.

Sobre São Luiz do Paraitinga, o Instituto Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) informou que, como o processo de tombamento do conjunto arquitetônico da cidade estava em estado avançado, as construções foram registradas e catalogadas. Em pouco tempo o conjunto do município poderia integrar o grupos dos cerca de 100 sítios urbanos tombados pelo instituto.

Isso é diferente do que acontece na capital do estado, onde, de acordo com o presidente da Associação Preserva São Paulo, Jorge Eduardo Rubies, milhares de imóveis de valor histórico e arquitetônico não recebem qualquer tipo de proteção. “O patrimônio histórico aqui de São Paulo está ameaçado, é mal cuidado, pouco valorizado, a situação é realmente muito ruim”, afirmou em entrevista à Agência Brasil.

Segundo Rubies, a valorização das áreas onde estão localizados imóveis de importância histórica acaba fazendo com que essas propriedades sejam adquiridas por grandes empresas que depois derrubam as edificações e usam os terrenos para outros fins.“A especulação imobiliária é a grande responsável pela destruição do patrimônio histórico, porque eles não tem o menor interesse em preservar, querem destruir tudo mesmo”, disse.

Os tradicionais conjuntos habitacionais operários da Mooca, na zona leste, estão sendo demolidas, segundo Rubies, para a construção de megacondomínios. “São uma coisa que a gente considera uma excrescência no tecido urbano da cidade, porque esses megacondomínios arrasam quarteirões inteiros para construir essas torres fortificadas totalmente separadas da cidade, não têm um diálogo com a cidade”, destacou.

O setor imobiliário, acrescentou Rubies, usa o poder financeiro para influenciar a esfera política e realizar esse tipo de modificação na estrutura urbana. Ele relembrou a cassação de 16 vereadores determinada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) por receberem doações irregulares da Associação Imobiliária Brasileira (AIB).

Telmo Padilha lembra que existe o conceito equivocado de que substituir construções antigas por obras mais modernas é uma forma de desenvolvimento. “A velocidade da destruição do patrimônio é diretamente proporcional ao que se chama de progresso”.

O metrô paulistano, aponta Jorge Rubies, arrasou dezenas de imóveis de valor histórico durante a sua construção e continua derrubando na sua atual expansão. O que, segundo o presidente da Preserva São Paulo, não seria necessário. “Somos defensores incondicionais do metrô. Mas por exemplo, em Paris foi construído um metrô enorme e se preservou tudo de importante na cidade”.

Comentários

3 respostas para “Sem registro 90% do patrimônio histórico está em perigo”

  1. Avatar de Jackson Rubem
    Jackson Rubem

    Obrigado, Rene, por seus esclarecimentos.

  2. Avatar de Rene
    Rene

    São Paulo tem uma rede metroviária ridícula, perto da demanda. A Cidade do México tem três vezes mais quilômetros de metrô do que nós. Até quando o Estado irá priorizar o transporte particular? Engraçado que a crítica ao progresso geralmente vem quando o progresso beneficiaria as camadas populares e favoreceria uma dinâmica social menos individualista.

  3. […] Universidade de São Paulo (USP), Paulo Marins, foi “chocante” para a preservação do patrimônio cultural brasileiro a inundação do dia 2 de janeiro. A consequência mais grave foi a destruição de parte do centro […]