Embora não faça parte da mostra competitiva, o documentário Rock Brasília – A Era de Ouro, de Vladimir Carvalho, emocionou o público na abertura do 44º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, nessa segunda-feira (26) à noite, no Teatro Nacional. O filme, que conta a história da geração do rock dos anos 80 em Brasília, não só empolgou pela espontaneidade dos depoimentos dos músicos, mas também pela identificação com os que moram nas superquadras e que, de alguma forma, viram o movimento do rock ocorrer na cidade.
Vladimir Carvalho retrata a geração que gerou bandas como Capital Inicial, Legião Urbana e Plebe Rude, valorizando a capacidade que esses jovens tiveram de se expressar em meio a condições adversas. “Eram jovens que reagiam institivamente à autoridade. Eram jovens cultos, viajados e que fizeram músicas e letras permeadas dessa reação naquele momento de transição da política. Eles não foram cooptados, eles cooptaram”, disse à Agência Brasil o cineasta, que era professor da Universidade de Brasília (UnB) na década de 1980 e registrou os momentos iniciais das bandas, além de entrevistas com seus integrantes em 1987 e 1988.
“Percebi que havia história no movimento desses rapazes porque eles estavam voltando a Brasília depois de tocar em várias cidades brasileiras. Comecei a gravar os shows que aconteciam na Foods (lanchonete da Asa Sul), na UnB e a gravar entrevistas com esses garotos. Isso ficou guardado por mais de 20 anos. A minha sorte é que não estragou”, acrescentou.
Vladimir ressalta o exemplo dessa geração pelo papel de resistência e, principalmente, de crença em um sonho. “É necessário olhar no retrovisor para entender muito do Brasil de hoje. Esses garotos deram um ensurdecedor exemplo de perseverança e crença em um sonho. E tem que ser assim para que esse sonho se torne realidade”, disse. “Eles ainda sentiram o peso dos resquícios da ditadura, chegaram a ser presos em um show em Patos de Minas e viram que o negócio era sério”.
O baterista Fe Lemos, da banda Capital Inicial, um dos entrevistados no documentário, lembrou que à época, não poderia imaginar a repercussão de sua simples vontade de tocar. “A gente via tudo como brincadeira. Nunca pensei que isso tivesse tamanha repercussão, da mesma forma que nunca pensei que estaríamos agora sem o Renato Russo, que sempre dizia que queria ser músico, depois cineasta e, depois, escrever um livro. Se ele estivesse aqui neste momento, com certeza estaria se aventurando pelas artes visuais”.
Rock Brasília – Era de Ouro não concorrerá a prêmios. O filme, no entanto, já recebeu o prêmio de melhor documentário do Festival de Paulínia de Cinema deste ano.
Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil