A esse problema se soma a dificuldade de reunir alunos em áreas centrais de estudo devido à distância entre as inúmeras comunidades ribeirinhas e indígenas e à falta de estrutura educacional nessas áreas, como a pouca disponibilidade de professores qualificados, conforme texto intitulado “Curso de alfabetização no Amazonas é voltado para o interior e atende indígenas e ribeirinhos”, escrito por Amanda Mota, repórter da Agência Brasil:
Para tentar evitar, sobretudo no interior, o aumento do índice de pessoas que não sabem ler nem escrever, o governo estadual implantou, em maio de 2003, o programa Reescrevendo o Futuro – voltado para a alfabetização de jovens acima de 15 anos e adultos no Amazonas.
O curso de alfabetização é oferecido nos 62 municípios amazonenses e é realizado, ao longo de seis meses, uma vez por semana, geralmente aos sábados e, eventualmente, em feriados.
Transporte de ida para as escolas e retorno para casa, lanche, almoço e material educacional são custeados pelo programa.
Em menos de seis anos, o Reescrevendo o Futuro conseguiu alfabetizar quase 151 mil pessoas, incluindo 5.539 indígenas de 34 etnias, em 21 municípios. O programa registra um índice de aproveitamento de 73% (alunos alfabetizados) e evasão de 7%. Cerca de 20% dos alunos do programa não conseguem ser alfabetizados.
O sucesso da iniciativa vai render em 2009 para o Amazonas um reconhecimento nacional. Do total de municípios do estado, 44 receberão do Ministério da Educação (MEC) o selo de Município Livre do Analfabetismo, conferido aos que atingem mais de 96% de alfabetização, com base nos dados do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2000.
Além disso, 18 municípios receberão o selo de Município Alfabetizador, entregue a cidades com menos de 4% de analfabetos. O problema já foi totalmente erradicado nas zonas urbanas de 37 municípios.
Apesar dos resultados positivos, a coordenadora do programa, Nazaré Correa, avalia que ainda existem muitos desafios. Segundo ela, ainda há dificuldades para reunir os alunos no estado para estudar. Cada um recebe, por mês, um auxílio de R$ 30, como incentivo aos estudos e recompensa pelo dia “perdido” de trabalho.
“A estratégia é trabalhar com eles durante oito horas, mas apenas uma vez por semana. As aulas são aos sábados para aproveitarmos as escolas vazias. O maior desafio é a resistência que encontramos entre as pessoas que nunca entraram numa sala de aula”, diz.
O Reescrevendo o Futuro reúne turmas de sete a 25 alunos. Em cada sala de aula, há dois professores. Por ano, o programa conta com o trabalho de cerca de 1,6 mil docentes que recebem um adicional pelas aulas ministradas.
“Tudo é pensado para garantir o interesse e a permanência desse aluno. Os lápis utilizados, na maioria das vezes, são aqueles de cera, mais grossos. Como muitos de nossos alunos são agricultores acostumados ao trabalho pesado da enxada, eles têm dificuldade de usar lápis finos”, conta Nazaré.
No início do programa, em 2003, os municípios de Itamarati e Guajará tinham, respectivamente, 60% e 53% de analfabetos. Eram as piores taxas do estado, que hoje conseguiu erradicar esse problema nas duas cidades.
Em 2008, 21,5 mil alunos aprenderam a ler e escrever. No município de Tabatinga foram alfabetizados 1.024 alunos, 80% indígenas. Para este ano, a meta é chegar a 38,6 mil alunos. A prioridade serão os municípios de Ipixuna, Envira e Pauini.
Segundo Nazaré, o trabalho não termina na alfabetização. “Quando esses alunos saem do programa, começamos um outro trabalho que é para incentivar o ingresso dessas turmas nas aulas voltadas para EJA [educação de jovens e adultos]. Fazemos por ano oito viagens por município para preparar os alunos a continuar os estudos após a alfabetização.”