Reciclagem de entulhos pode ajudar a população do Haiti a sair da crise, segundo planos da organização não governamental (ONG) Viva Rio. A idéia surgiu depois que o diretor- geral da instituição, o antropólogo Rubem César Fernandes, esteve no país, no dia seguinte ao terremoto, onde ficou até o dia 30. Ele estuda uma forma de instalar uma planta de reciclagem de lixo. Cada haitiano receberia o pagamento por material levado para reciclagem.
Segundo ele, apesar das dificuldades imediatas muito sérias, relacionadas a reconstrução do Haiti, é preciso pensar a médio e longo prazo:
“Falta comida, falta água, mas é preciso pensar também na movimentação da economia, para gerar trabalho e renda para a população e assim reduzir o desespero”, disse. “Seria um trabalho tipo formiguinha. As pessoas encheriam os carrinhos e levariam até nós os entulhos que estão por toda parte e nós pagaríamos por isso. Com a reciclagem, daríamos uma valorizada no material e ajudaríamos a movimentar com a economia”, completou ele, destacando que considera o povo haitiano bastante criativo, conforme notíciado na Agência Brasil / Thaís Leitão:
Fernandes disse ainda que a chegada da estação da chuva, em março, também preocupa os haitianos, em boa parte sem ter onde se abrigar. Por isso, segundo ele, já começou uma corrida por tendas.
“Agora estamos em um período de seca e muita gente ainda dorme do lado de fora. As tendas, eu diria, viraram itens mais cobiçados até do que alimento. E pode ficar ainda pior, porque em março começam as chuvas, que podem ser fortes e costumam alagar tudo.”
Ele informou que vai conversar na próxima semana com representantes do Instituto de Arquitetos do Brasil para ver se é possível promover uma aproximação entre profissionais brasileiros e haitianos para pensar a reconstrução do país, preservando a história local, mas usando outros materiais, mais resistentes a abalos sísmicos.
“Lá, tudo é feito de concreto e pedra. Poderiam ser utilizados madeira, ferro e bambu, mais maleáveis, que balançam, mas não caem tão facilmente. Também é preciso repensar a ocupação de encostas, muito mais altas do que as brasileiras”, disse.
A ONG Viva Rio, criada no Rio de Janeiro em 1993, mantém há alguns anos um centro comunitário em Bel Air, na região central da capital haitiana com o objetivo de ajudar a sociedade local a enfrentar o crime organizado em gangues que assolam Porto Príncipe desde o fim da ditadura de François e Jean-Claude Duvalier, que comandaram o regime ditatorial entre a década de 1950 e 1985.