O povo Tuxá, original da região norte da Bahia, foi deslocado de seu território tradicional em função da construção da represa de Itaparica, na década de 80. Depois da inundação, os índios foram transferidos para áreas distintas – na nova cidade de Rodelas, em Ibotirama, e também no estado de Pernambuco.
Durante o Encontro das Culturas dos 14 Povos Indígenas da Bahia – o E14, realizado, na semana passada, durante três dias, em Rodelas, os povos indígenas reivindicaram o apoio do Estado na proteção e demarcação das terras e, pela primeira vez, depois de 22 anos, o povo Tuxá se reencontrou, para dançar, juntos, o Toré, ritual sagrado de integração.
Este foi apenas um dos momentos importantes do encontro, que contou com a participação de 300 indígenas, do secretário de Cultura do Estado da Bahia, Márcio Meirelles, do presidente da Funai, Márcio Meira, além de representantes de entidades, como Angélica Gutierrez, membro do Conselho Nacional dos Povos Indígenas da Bolívia, e Djacir Melquior da Silva, um dos protagonistas na luta pela demarcação da reserva Raposa/Serra do Sol (criada por decreto do presidente Lula, em 2005).
“Trazer estes dois convidados, que pertencem ao contexto da luta dos povos indígenas, foi importante porque ser uma forma de intercâmbio dos povos indígenas da Bahia com os indígenas latino-americanos. Acredito que nosso continente vive um novo momento histórico, tendo em vista a eleição de um indígena para ocupar a presidência da República de um país”, explicou o coordenador do E14 e do Núcleo de Culturas Populares e Identitárias da Secult, Hirton Fernandes.
Na abertura do evento foi anunciado o Prêmio Iniciativas Culturais dos Povos Indígenas da Bahia que, a pedido da comunidade indígena, patrocinará 10 projetos no valor de R$10 mil cada.
Nos próximos meses, técnicos da Secult vão percorrer os territórios de identidade baianos realizando oficinas para orientar os povos indígenas na criação de projetos para obterem recursos públicos. As inscrições serão abertas em fevereiro.
Jovens indígenas
O E14 também promoveu o encontro de jovens indígenas, que discutiram a experiência dos mais velhos e criaram um documento com 22 propostas ao Governo da Bahia.
Entre elas está o apoio à manutenção dos jovens indígenas na universidade, incentivos culturais por meio de inclusão digital, realização do I Jogos dos Povos Indígenas da Bahia, além da facilitação de vendas e divulgação de arte popular indígena em eventos nacionais e internacionais.
Os participantes do encontro falaram ainda da necessidade de pesquisa, mapeamento, registro e publicação de dados referentes às origens e tradições dos povos indígenas da Bahia.
Como fruto do E14, representantes indígenas se reúnem com a Secult, no dia 25 de novembro, para abrir espaços voltados à comercialização do artesanato e colocar em prática as resoluções do encontro.
Durante o evento, uma equipe de filmagem do Irdeb recolheu material audiovisual para um documentário sobre os 14 povos. Foi a primeira vez que um encontro como este aconteceu na Bahia. (Agecom)