O voo AF 447 da Air France inspirou o quinto volume da série de livros intitulados Erros de Pilotagem, de autoria do piloto e escritor Jean-Pierre Otelli.
A obra traz em suas páginas a transcrição da gravação feita pela caixa-preta de voz (cockpit voice recorder, CVR), que começa às 0h26 e termina às 2h14 – captando o momento em que as sondas Pitot, que mediam a velocidade do avião, congelaram, às 2h10. Alguns trechos do livro jamais haviam sido divulgados pelos investigadores da tragédia.
A agência francesa que investiga as causas do acidente com o voo AF 447 da Air France, que caiu no Oceano Atlântico em 31 de maio de 2009 depois de deixar o Rio de Janeiro rumo a Paris, não ficou satisfeita com a obra e condenou a divulgação das transcrições das caixas-pretas no referido livro.
A agência (BEA, na sigla em francês), considera que as conversas divulgadas são de caráter pessoal e não têm ligação com os acontecimentos que resultaram na tragédia. No Airbus A330 que saiu do Rio com destino a Paris havia 228 pessoas entre brasileiros, franceses, alemães, italianos e passageiros de outras nacionalidades. Apenas 50 corpos foram localizados, sendo 20 deles de brasileiros.
Em nota divulgada na imprensa, a agência de investigações informou que a publicação dos diálogos “é uma falta de respeito à memória dos pilotos”. Para o BEA, a revelação das frases viola a legislação europeia de aeronáutica e acirra as polêmicas.
Percebe-se nas conversas transcritas no livro que os três pilotos não notaram o que estava acontecendo, nem perceberam o que deveria ser feito para evitar a catástrofe. Quando o avião começa a perder altitude, um deles diz que o avião está sem controle e que não compreendia o que se passava. No livro há, ainda, relatos dos últimos instantes do voo, quando um copiloto parece perceber que a aeronave vai cair.
Embora a Agência tenha condenado a obra, o livro de certa forma contribui não só para satisfação da curiosidade pública, mas também para melhora dos serviços aéreos.