O poder das plantas, das frutas e das verduras na cura das doenças vem sendo propagado de pai para filho ao longo dos séculos. Na década de 1990, José José Victor Jankevicius, então professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL)levantou a hipótese de que um parasito encontrado no tomate pode proteger as pessoas contra a doença de Chagas.
O pesquisador isolou e caracterizou o ciclo biológico do Phytomona serpens 15T, da mesma família do Trypanosoma cruzi, causador da doença, um trabalho importante não somente para o Brasil, mas para todo o mundo, principalmente pessoas de países mais pobres, que vivem em casas pobres, expostas ao barbeiro.
Eis mais detalhes da notícias, publicada pela Agência Fapesp, por Washington Castilhos:
A diferença é que o P. serpens não faz mal ao ser humano, por ser uma praga típica do tomateiro. Pesquisadores do mesmo laboratório de Jankevicius, agora aposentado, descobriram que exatamente por causa dessa “familiaridade” o parasito apresenta proteínas similares que podem “matar” o T. cruzi.
“Para entender nossa descoberta, é necessário conhecer a estratégia usada por Jankevicius, que imunizou camundongos uma vez por semana durante um mês – via oral e intraperitoneal – e, sete dias depois da última inoculação, infectou esses mesmos animais com doses letais do Trypanosoma cruzi”, disse Igor Campos Damiani, aluno do Departamento de Microbiologia da UEL, à Agência FAPESP.
“Ele verificou que todos os animais imunizados com o P. serpens apresentavam uma menor parasitemia [nível de parasitas no sangue], enquanto que os que não foram imunizados acabaram morrendo”, disse Damiani, que apresentou os resultados da pesquisa no Simpósio Internacional Comemorativo do Centenário da Descoberta da Doença de Chagas, realizado pela Fundação Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro, na semana passada.
A partir do primeiro passo dado por Jankevicius, a equipe tem se dedicado a descobrir possíveis proteínas específicas do parasito do tomate que causam a imunização contra a infecção pelo T. cruzi. Identificaram 22 e uma, em especial, chamou a atenção: a GAPDH, existente em quase todos os organismo vivos – inclusive em células humanas – e que desempenha papel-chave no metabolismo da glicose no processo de geração da energia que mantém vivo o parasito de Chagas.
“Se inibido, de alguma forma, o parasito não poderá mais produzir energia e morrerá. Como a GAPDH existe tanto no Phytomona como no T. cruzi, os anticorpos produzidos contra a GAPDH do primeiro também reconhecerão essa proteína no outro, inibindo sua ação. Dessa forma, o T. cruzi não poderá mais usar a glicose como fonte de energia”, explicou Damiani.
Recentemente, o grupo paranaense inoculou somente a proteína de Phytomona clonada em camundongos infectados. Os resultados mostraram que a parasitemia baixou depois da imunização com a proteína GAPDH.
“Jankevicius inoculou o parasito Phytomona inteiro nos animais. Nós inoculamos somente a proteína, essa é a diferença”, disse Damiani, que desenvolve a pesquisa sob a coordenação da professora Sueli Yamada Ogatta.
A descoberta pode favorecer o desenvolvimento de vacinas recombinantes e de DNA. “Mas, embora promissores, são resultados preliminares e ainda é cedo para gerar expectativas”, ressaltou Damiani.
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