Pela primeira vez na história da medicina, os cientistas conseguiram ler a mente de um homem que perdeu toda a consciência e se transformou em uma espécie de morto-vivo, após uma lesão traumática da cabeça.
O acontecimento abre uma série de indagações sobre o que é ser uma pessoa sensível e como tratar os que estão em estado vegetativo. A comunicação é uma espécie de grito, para dizer “estou existindo”, algo tão emocionante quanto o feto tirou mão do interior do útero da mãe e segurou o dedo do médico que o operava.
O jovem acidentado de 24 anos foi considerado em estado vegetativo, durante cinco anos, mas foi capaz de se comunicar com os pesquisadores, pensando as respostas “sim” ou “não” para as perguntas dirigidas a ele. A notícia foi divulgada nas grandes emissoras de televisão estrangeiras e em um longo artigo de Jeremy Laurence, publicado no jornal inglês The Independent.
Os pesquisadores usaram um poderoso escaner cerebral, capaz de detectar quando a pessoa está pensando e interagir com o pensante, mesmo que os métodos tradicionais da medicina o considerem incapaz de pensar. Foi a primeira que o acidentado conseguiu fazer contato com o mundo exterior.
A descoberta por uma equipe anglo-belga liderado por Adrian Owen da Faculdade de Medicina Cognition Research Council and Brain Sciences Unit, da Universidade de Cambridge foi elogiada por outros cientistas ontem. Nicholas Schiff, professor adjunto da neurologia na faculdade de Weill Cornell, Nova York, disse os resultados tem “implicações muito amplo para a avaliação dos pacientes na zona intermediária entre consciência e inconsciência. Uma vez que a base biológica dos resultados foi explicada “vai ter um profundo impacto em toda a medicina”, disse ele.
Usando uma técnica de escaneamento chamada ressonância magnética funcional (fMRI), desenvolvida pelo Dr. Owen e sua equipe, eles pediram ao homem para imaginar dois cenários: participando de um jogo de tênis e andando dentro de sua casa ou em um lugar que lhe fosse familiar. Os cientistas mapearam então a sua atividade cerebral e descobriram que ele realizara seus pedidos.
Em seguida, apresentaram um teste com seis questões, tais como “O nome de seu pai é Alexandre? E pediram-lhe para imaginar jogando tênis se a resposta fosse “sim” e imaginar caminhando pela casa, se a resposta fosse “não”. De forma surpreendente, o morto-vivo respondeu “sim”, indicando que o nome de seu pai era Alexandre. E respondeu “não”, quando perguntaram se o nome de seu pai era Thomas.
Os resultados da pesquisa estão publicados no New England Journal of Medicine (NEJM). A descoberta significa que os médicos podem, no futuro, serem capazes de perguntar a um paciente que não pode mover ou falar, mas estão conscientes, se estão sentindo alguma dor e precisam de mais medicação. Finalmente, a técnica pode ser desenvolvida para permitir aos que estão em estado vegetativo controlar seu ambiente, expressar seus pensamentos e melhorar sua qualidade de vida.
Os doutores Owen e Laureys estão trabalhando para fabricar portáteis alternativos e mais baratos, para que sua descoberta possa ser usada em qualquer hospital do mundo.