Quando o cineasta de origem armênia Serguei Paradjanov (1924-1990) foi preso sob a acusação de tráfico de ícones, na década de 70, Jean-Luc Godard se ofereceu para tomar o lugar do colega na prisão. Mais do que militância, o gesto de Godard expressava, além da admiração, o horror à possibilidade de interrupção de uma filmografia fulgurante.
O que se sabe de Paradjanov, e não é muito, em razão do quase total ineditismo de sua obra no Brasil, confirma a assertiva godardiana. O criador versátil que produziu não só no campo cinematográfico, mas também foi escritor, artista plástico e músico, ficou preso durante sete anos, contabilizando dois distintos períodos: de 1974 a 1978 e de 1982 a 1985.
Relacionado como da mesma linhagem de Pasolini e Glauber Rocha – “a obra como o próprio corpo do realizador” – e instigador como Werner Herzog, pela quimera das “imagens virgens”, que parecem inventadas no exato momento de sua captura, Paradjanov acrescenta a tudo isso uma força extra, como se fosse um magma, em que sua câmera tivesse o poder de fazer emergir do centro da terra.
Dois exemplos desse cinema muito singular chegam a Salvador de sexta-feira (29) a 6 de março. A Sala Walter da Silveira exibe os raros A Lenda da Fortaleza de Suram (Prêmio da Crítica na 11ª Mostra de Cinema de São Paulo) e Trovador Kerib, raridades do cinema eslavo legendadas em português e com entrada gratuita.
cas/om