Consideradas as problemáticas sociais e econômicas que se abatem sobre os sistemas de alfabetização brasileiros, tem se ainda a questão do mau ensino e uso da língua nacional. Para a maioria dos profissionais da linguagem, ensinar a ler e, sobretudo, a escrever envolve uma série de fatores que nem sempre as metodologias inovadoras dão os resultados esperados.
As instituições escolares ainda ensinam com base num modelo de ensino, no qual os aprendizes de Língua Portuguesa não vêem a menor graça. Isto porque os assuntos tratados na aula de aula já são velhos conhecidos deles. Isto ocorra de maneira real, enquanto na escola tudo não passa de abstração. Assim, o professor de Língua Portuguesa e o Alfabetizador devem repensar suas práticas e as funções a serem atribuídas às aulas do idioma nacional, quando tive como objeto de ação a escrita.
Usar o texto como pré-texto para ensinar à escrita, às vezes é um equivoco, pois há comunidade nesse país que não tem acesso à palavra escrita conforme quer a escola; por uma série de fatores: isolamento dos centros editoriais, falta de recursos financeiros e cultura de leitura-escrita. Isto porque há cidades no Brasil onde a população não tem acesso a jornais e a revistas. Conquanto, vive imersa no universo da mídia televisiva, no qual as crianças e os adultos gastam boa parte de seu tempo diante da telinha, e o pior é que na maioria das vezes não depreendem os significados das mensagens veiculadas por tal veículo.
Nesse contexto estão padecendo os alfabetizadores, uma vez que ambos vivem o dilema da falta de conhecimento e metodologias que os auxiliem na mudança de comportamento em sala de aula, na qual há um publico inconscientemente “iletrado funcional”, ou seja, as pessoas conseguem ir e vir sem que faça se quer uma leitura apurada das mensagens escritas que lhes cercam. Isso demonstra que, há de alguma maneira, a valorização da oralidade, fazendo com que se tenha em certas partes do país quase uma sociedade ágrafa. O interessante é que existe em algumas regiões uma espécie de incentivo à oralização. Em outras palavras, tomando a região de Irecê-BA, num raio de cem quilômetros, há vinte cidades e todas têm emissora de rádio, mas não há imprensa escrita em sua maioria. Todos esses aspectos estão afetando o trabalho dos professores de Língua Portuguesa e, sobremodo o dos alfabetizadores, os quais encontram em sala de aula resistência à produção escrita por parte do alunado, de maneira que estes preferem narrar oralmente suas experiências que as escreverem.
Desse modo, a concepção escolar de ensinar à escrita está, nesse caso, quase fadada ao fracasso, porque os métodos que vêem sendo usados pela escola desconsideram a mídia de massa; aqui entendida como televisão e rádio como possibilidade real para melhoria de tal processo, esquecendo, pois, que em tais veículos também se faz uso de material escrito, o qual, na maioria das vezes não é legitimado pela norma, contudo, é um texto que em suas deficiências, atendem às necessidades da comunidade a qual não se interessa no processo de construção da informação, mas sim no resultado, informação oral. Conclui-se assim, que é preciso uma revisão no uso dos instrumentos de alfabetização existentes na escola, visto que há uma valorização da tradição oral em detrimento da observância do paradigma da escrita, haja vista que a maioria das crianças a ser alfabetizadas nesses contextos chega à escola cantando músicas de sucesso, ouvidas nas rádios, bem como vistas na televisão, ainda conhecem jogos eletrônicos e navegam na internet. Contudo, este saber não atende às perspectivas de escrita solicitada pela escola. Eis, pois o desafio do alfabetizador na era da mídia oral.
Robério Pereira Barreto
Professor da Uneb
jpgbarreto@hotmail.com