É muito difícil convencer um adulto acostumado a não saber ler nem escrever, a frequentar uma turma de alfabetização, à noite, e ter que enfrentar suas dificuldades e limitações.
Para os educadores e especialistas no tema, é necessário uma articulação das políticas de educação com outros setores sociais. Não basta oferecer a sala de aula, mas garantir outras formas de motivação.
“Eu sempre pergunto por aí quantas pessoas se inscrevem para fazer um curso de línguas depois do trabalho. A maioria desiste. Então, se coloque no lugar do analfabeto: ele trabalhou o dia inteiro, geralmente em uma função pesada, é um público que exige atenção especial”, defende o secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação (MEC), André Lázaro, conforme artigo intitulado “Ações integradas são saída para manter adultos em cursos de alfabetização”, escrito por Amanda Cieglinski e publicado na Agência Brasil:
“O adulto vai ter dificuldade em ler e escrever, você precisa fazer com que ele acredite que vale à pena ir para as aulas à noite”, reforça.
Segundo o secretário, o MEC está tentando convencer prefeituras e governos estaduais a investir em ações integradas nas turmas de alfabetização. “Nós sustentamos a tese de que a educação organiza. No caso das turmas do Brasil Alfabetizado, você pode organizar uma série de políticas públicas, seja com palestras sobre saúde da mulher ou programas de geração de renda e cooperativismo”, exemplifica.
A professora da Universidade de São Paulo (USP) Maria Clara Di Pierro diz que, como o problema atinge, em grande parte, as parcelas mais pobres da população, é preciso combinar as políticas sociais para conseguir reduzir ou eliminar o analfabetismo no país.
“Quando você atinge patamares pequenos de analfabetismo é muito mais difícil reduzir [o problema] justamente porque você chega àquelas populações em que o analfabetismo está associado a formas extremas de exclusão social”, afirma
“O que acontece hoje é a ausência de políticas intersetoriais para atingir esse grupos, porque eles precisam de um conjunto de políticas articuladas de educação, saúde, assistência, trabalho”, complementa Maria Clara, especialista em educação de jovens e adultos.
Para a professora, é necessário dar sentido a essa educação. “Não basta um esforço escolar simplesmente. Se ele está na zona rural, precisa de terra, financiamento e melhorias no transporte. No escopo do desenvolvimento local é que a alfabetização ganha sentido. Então a questão é distribuir renda, melhorar o horizonte de vida dessas pessoas”, defende a especialista, ao ressaltar a importância de se criar atrativos para que o analfabeto não desista de estudar.
Ela também alerta que muitas vezes o modelo tradicional de educação não serve para o adulto. “É preciso organizar o processo em ciclos mais curtos, de forma flexível, para que ele possa evoluir no seu ritmo. Toda vez que você encaixa a educação de adultos em um modelo rígido, tradicionalmente escolar, não cabe, porque não atende aos arranjos de vida das pessoas”, observa.