A juventude negra de Samambaia deu exemplo de movimento social pacífico, cidadão, vitorioso, na região administrativa do Distrito Federal (DF). Devido a existência de poucos espaços públicos e áreas de lazer a comunidade se uniu para construir uma praça.
Até ai tudo bem. Acontece que muitos se sentiram incomodados com a presença de jovens e resolveram retirar os bancos e as mesas que eram usados nos encontros. O exemplo retrata uma lógica que se repete: o reconhecimento dos jovens negros, principalmente, como elementos perigosos que devem ficar à margem da sociedade.
Ora, se os jovens negros (a maior parte) não tem praças, salas de cinema e bibliotecas, que opção resta a eles? Passam a ocupar lugares sem infraestrutura, por vezes inseguros, ou então levantar a cabeça e construir os próprios espaços de convivência.
Esta foi a opção do Artsam (Arte Solidária, Autônoma e Militância) e é uma das formas de participação política no Brasil, principalmente porque deixa uma lição para a classe política brasileira. O grupo reúne jovens que, por meio de diversas expressões culturais, como a música e o teatro, procuram dialogar com a comunidade.
“Foi um despertar coletivo para a necessidade de ter uma organização que dialogasse com a juventude e com o movimento hip hop Samambaia”, conta Marcus Dantas, o Markão Aborígine, 29 anos. Ele relata que os integrantes decidiram “se organizar e passar a reivindicar direitos que são historicamente violados”.
“Não dava para a gente ficar reclamando uma política pública de cultura. Decidimos colocar o cinema na rua. Então, a gente faz um cineclube, vai para as praças e para as garagens das casas fazer debates”, explica para Helena Martins – Repórter da Agência Brasil.
Além dos cineclubes, os integrantes do Artsam, moradores de Samambaia, do Recanto das Emas e de outras regiões administrativas do DF, desenvolvem uma série de atividades, como saraus, ensaios abertos e escolas de formação. O coletivo também participa de ações com outros movimentos sociais, como o plebiscito popular pela reforma política e a luta contra as opressões.
A organização da juventude negra e moradora da periferia é um dos pontos destacados pelos integrantes do grupo, que reclamam da falta de representação política dessa população e de, muitas vezes, serem os brancos a terem a voz valorizada, mesmo quando falam sobre a questão racial.
“Em qualquer lugar que a gente vá, principalmente institucional, a gente não tem uma maioria de negros e negras atuando. A gente ainda tem a elite branca, classista e racista aparecendo como salvadora da pátria de um negro, querendo defender pautas de moleques que apanham da polícia quase todos os dias, na periferia”, avalia Henrique QI, 22 anos, rapper e educador social.
Pouco a pouco a juventude negra começa a vencer em diversas áreas, música, literatura, cinema e telenovela, mesmo com participação pequena. O mais interessante, nesse sentido, é a forte presença da cultura africana no Brasil, através de Windeck – Todos os Tons de Angola, novela feita só com atores negros.
Hoje é Dia Nacional da Consciência Negra