São Paulo – A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) defende a realização de pesquisas com o uso de células-tronco de embriões humanos, afirmou o diretor científico da entidade, Carlos Henrique de Brito Cruz. O uso dessas células está previsto na Lei de Biossegurança, mas sua constitucionalidade estará em dicussão e votação no Supremo Tribunal Federal nesta semana.
“A fundação considera que a pesquisa com embriões é necessária para o desenvolvimento da ciência, para o avanço do conhecimento e para criar conhecimento que vai beneficiar a humanidade. Essa pesquisa deve ser feita com critérios e com cuidados que respeitem a vida, respeitem os valores da humanidade e isso é possível de ser feito”, afirmou Brito Cruz à Agência Brasil. A Fapesp é uma das principais entidades de financiamento à pesquisa acadêmica, científica e tecnológica de nível superior do país.
Ele acrescentou que “a fundação também considera que é essencial para o desenvolvimento da democracia brasileira que haja uma separação completa em decisões desse tipo, entre as considerações ditadas por religião e as considerações ditadas pelo interesse público e pelo interesse da democracia brasileira. O Brasil é um estado laico e as decisões precisam ser decisões laicas e não determinadas por qualquer religião que seja. Todas elas são importantes e devem ser respeitadas, mas a religião tem o seu lugar, a ciência e o estado laico têm o seu”, afirmou Cruz.
Também ligada à fundação, a bióloga Eliana Maria Beluzzo Dessen, professora aposentada do Departamento de Genética e Biologia da Universidade de São Paulo e coordenadora de Educação-Difusão do Centro de Estudos do Genoma Humano (Cepi-Fapesp), avalia que o debate deve ter a participação dos cientistas. “A sociedade tem de discutir isso, mas acho que é preciso ouvir a opinião dos cientistas, dos outros setores todos da sociedade, de uma maneira argumentativa, não de uma maneira passional, emotiva”. Dessen admite que o tema é “complicado e espinhoso”, mas lembra que ele está colocado desde o início do uso das técnicas de reprodução assistida no país, com as fertilizações in vitro.
“Ele [o embrião] foi feito em laboratório. A viabilidade desses embriões nunca é de 100%. Depois, eles são congelados, e a viabilidade deles diminui ainda mais. E se eles não forem usados durante um tempo finito de anos, estarão totalmente inviáveis, automaticamente. Ou seja, é um problema que está posto na sociedade: a reprodução assistida existe; embriões são congelados e são deixados congelados nas clínicas. O destino deles já foi determinado. Alguns foram implantados no útero da mãe e os outros sobraram congelados. E são sempre muitos”.
Brito Cruz e Belluzzo Dessen participaram do comitê científico brasileiro que ajudou a conceituar e a realizar a mostra Revolução Genômica, originalmente apresentada no Museu de História Natural de Nova York. Apresentada à imprensa em São Paulo na véspera de sua abertura, a mostra procura esclarecer ao público a importância do aprendizado da engenharia genética e seus usos, que abrangem temas polêmicos, como o uso de embriões humanos e a produção de alimentos e organismos transgênicos.
Paulo Montoia
Repórter da Agência Brasil