As mineradoras contribuem para aumentar exploração sexual no Amapá, diz coordenadora em matéria publicada na Agência Brasil, escrita por Leandro Martins, repórter da Rádio Nacional
da Amazônia:
A instalação de empresas mineradoras em pequenas cidades no Amapá contribuiu para o crescimento da exploração sexual de crianças e adolescentes. É o que denuncia Carla Góes, coordenadora estadual do Programa Sentinela, que atende vítimas de abuso sexual.
No estado, o município que apresenta índices mais elevados de exploração é Pedra Branca do Amapari, a cerca de 200 quilômetros de Macapá, que tem 7,3 mil habitantes. O motivo, segundo a coordenadora, é a instalação das mineradoras que chegaram ao local em 2006 levando cerca de 2 mil trabalhadores de outras cidades e estados. Além disso, muitos dos homens não levaram suas famílias.
“Chegou a um ponto em que as adolescentes vão nos alojamentos, pousadas e hotéis oferecer ‘os serviços’ para os trabalhadores dessas empresas, principalmente nos dias de pagamento”, afirma Carla. Como o município é pobre, as meninas são incentivadas pelos próprios familiares a conseguir dinheiro para ajudar em casa.
Segundo Carla, a exploração já “chegou a um ponto tão crítico” que os próprios pais das jovens, e principalmente as mães, “agenciam” as filhas. O objetivo é conseguir dinheiro para contribuir financeiramente para o sustento da família. Outro foco de exploração sexual de jovens no estado é Oiapoque, localizado na fronteira com a Guiana Francesa. De acordo com a
presidente do Conselho Tutelar da cidade, Carmem Lúcia Saldanha, a maioria das meninas vem de outros lugares.
“Muitas das vezes, elas não são só de Oiapoque. Vêm de Belém, com documento de identidade falso, dizendo que são maiores de idade, enganando seus pais dizendo que vão estudar, trabalhar em casa de família, isso já aconteceu”, afirma a presidente.
Ao contrário do que acontece em Pedra Branca do Amapari, onde as meninas são exploradas para o sustento da família, em Oiapoque, afirma Carmem Lúcia, o objetivo é satisfazer necessidades de consumo, como comprar telefones celulares e roupas de marca. Ela lembra que o dinheiro dos turistas da Guiana é o euro – que vale cerca de três vezes mais que o real.
Carmem Lúcia garante que o Conselho Tutelar apura denúncias, mas alega que é difícil ocorrer um flagrante.
Essa situação está chamando a atenção de prefeitos e de entidades que lidam com menores. Segundo a prefeita de Serra do Navio, Francimar Santos, a chegada de tantos homens sem família modificou a realidade do município.
“A maior parte dos homens, quando chega, procura bares, procura salões de festa e mulheres. E também há mulheres de fora chegando em nosso município. E há a questão da gravidez precoce crescendo em nosso município. Na maioria das vezes, eles engravidam nossas meninas e vão embora”, lamenta Francimar.
Além do aumento da prostituição e da exploração sexual de meninas, a prefeita reclama que o aumento repentino da população trouxe mais prejuízos do que compensações. Segundo Francimar, há muito mais lixo na cidade, e já falta energia elétrica e água tratada para atender a todos.
As escolas estão lotadas de crianças e os agentes de saúde não conseguem atender a tantos doentes. O gerente de Saúde, Meio Ambiente e Comunidade da Mineração Pedra Branca do Amapari (MPBA), Claudinei Mariano Alves, afirma que a empresa não tem conhecimento desse fato. Claudinei acrescenta que, nos últimos dois anos, a mineradora reduziu o número de empregados e de prestadores de serviço.
A empresa, no entanto, de acordo com ele, não descarta ações solidárias se for responsabilizada por problemas na comunidade. “A empresa busca sempre se colocar junto às comunidades de interferência, no caso de Pedra Branca do Amapari e de Serra do Navio, para estabelecer parcerias no controle de problemas sociais diversos, porém esse não nos foi levantado”, explica.
Segundo o gerente, a MPBA emprega atualmente 361 empregados diretos e 115 prestadores de serviço.