Bruxelas – Em meio às turbulências econômicas que sacodem a Europa e à falta de governo na Bélgica há um ano e nove meses, a Europalia 2011 tem dado visibilidade ao Brasil e atraído um público essencialmente belga, que busca conhecer a cultura brasileira além dos clichês samba e futebol.
A mostra brasileira na Europa envolve 600 eventos incluindo espetáculos de dança, música, palestras, literatura, exposições de artes plásticas, manifestações tradicionais, cinema e até circo. Na opinião de Kristine De Mulder, diretora do festival, a Europalia tem servido de escape, daí o sucesso de público. “Em períodos de crise as pessoas querem um escape e, de alguma forma, esquecer os problemas”, argumenta. A estimativa é que até janeiro de 2012, quando o evento se encerra, 18 mil pessoas tenham visitado alguma atividade da Europalia.
O festival cultural é a maior bienal da Europa e, a cada edição, escolhe um país como tema. O Brasil é o primeiro país da América do Sul a ser retratado. As 22 edições anteriores fizeram referências a países da Europa, além do Japão e do México. A partir de 2005, a Europalia passou a fazer homenagens a países do Brics e colocou como tema a Rússia e a China. O próximo festival será dedicado à Índia.
A mostra é concentrada na Bélgica que tem em sua capital, Bruxelas, todas as instâncias de decisão de União Europeia. Essa posição de capital da União Europeia trouxe mais dinamismo para a maior área urbana da Bélgica. Os eventos da Europalia se espalham, em menor proporção, pela França, Holanda, Alemanha e por Luxemburgo.
A Europalia envolve esforços do Brasil e da Bélgica com patrocínio de instituições públicas e privadas. O acordo para a realização da mostra foi firmado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2009. O secretário de Políticas Culturais do Ministério da Cultura, Sérgio Mamberti, esteve à frente da organização do festival e acredita que a influência cultural brasileira é a melhor contribuição do país nesse momento turbulento.
“Durante anos tivemos tanta influência dos países europeus e temos hoje nossa cultura própria com uma expressão muito forte, muito vigorosa, com artistas extraordinários em todas as áreas. Isso mostra que o Brasil amadureceu. Acho que é um grande momento do Brasil. O país desponta como uma das grandes nações do mundo”, destacou.
“A cultura faz com que o país seja reconhecido e seja lembrado, seja amado e seja capaz de estabelecer um diálogo que seria talvez a coisa mais importante do mundo hoje, conturbado, em meio a uma crise que indica que é o momento de mudar. Acho que o Brasil tem uma grande contribuição a dar e acho que a nossa cultura expressa isso”, completou Mamberti.
Embora seja possível observar nas exposições de artes visuais um público certamente maior que o que costuma frequentar galerias no Brasil, os eventos de música e dança são as atrações com público maior. Ainda não há um levantamento de quantas pessoas passaram pelos espetáculos.
O compositor, pianista e guitarrista Egberto Gismonti fez quatro apresentações, ao lado da Orquestra de Sopro da Proarte, do Rio de Janeiro, com casa lotada. Acostumado aos palcos internacionais, Gismonti comemora as homenagens ao Brasil.
“Um país como o Brasil precisa ser reverenciado. Não é para mudar a sua foto, mas sim pelo respeito que a Europa deve ao Brasil. Acho que está na hora de eles referenciarem aqueles, como nós, que apanhamos para burro e, como disse Darcy Ribeiro, não perdemos o humor”, declarou em entrevista à Agência Brasil. “Aceitei o convite para tocar aqui porque tenho amigos e ainda fiquei curioso para ver como é que um país se comporta sem um governo. Achei que as coisas estão funcionando bem”, comentou.
Gismonti avalia que festivais como a Europalia servem para que se possa conhecer a cultura de outros países de forma mais aprofundada e atual. “Acho que seria um desrespeito muito grande se o Brasil continuasse a ser mostrado assim [de forma estereotipada], depois que o Brasil mostrou ao mundo pessoas como Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Burle Marx, Tom Jobim, Villa-Lobos, Pixinguinha e vai por aí. Foi um tsunami que invadiu o mundo”, disse.
Outro espetáculo que emocionou o público nas cidades belgas de Antuerpia e Bruges, durante esta semana, foi o de Renato Borghetti, Olivinho e Lulinha Alencar, um encontro de acordeões com sotaques de valsa-rancheira, forró, xote e improvisos. Para o gaúcho Borghetti, o show Acordeões do Brasil é a oportunidade de mostrar como o instrumento, de origem europeia, é tocado no Brasil.
“É um encontro da sanfona do Nordeste do Brasil, do acordeão no Sudeste e de gaita no Sul. É um projeto que mostra que por meio desse instrumento é possível fazer essa aproximação tão grande no Brasil e devolver o acordeão à Europa, mas com essa informação brasileira”, disse.
Luciana Lima
Enviada Especial
A repórter viajou a convite do Ministério da Cultura // Edição: Lílian Beraldo