Especialistas dizem que abusador sexual de crianças é sempre um amigo

Especialistas dizem que abusador sexual de crianças é sempre um amigo
Brasília - A titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) da capital federal, Gláucia Cristina Ésper, destaca a importância de as pessoas mais pobres terem acesso a canais de denúncias de violência sexual na própria comunidade (Foto: Antônio Cruz/ABr)

Crimes sexuais são praticados por pessoas frias e calculistas que usam estratégias para seduzir e atrair crianças e adolescentes. Daí a necessidade dos responsáveis estarem sempre prestando atenção nas pessoas que se aproximam dos seus filhos. Não só em estranhos, mas também em pessoas da própria família, já que geralmente os criminosos podem ser pais, padastros, tios e avós.

“O abusador é sempre amigo. Está dentro de casa, é uma pessoa dócil. Qualquer um põe a mão no fogo por ele, que não deixa rastro. É diferente do estuprador, que é truculento”, alerta o senador Magno Malta (PR-ES), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado que investiga casos de abuso e exploração sexual, pornografia infantil e tráfico de crianças e adolescentes.

De acordo com a delegada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Brasília, Gláucia Cristina Ésper, os pedófilos “não têm cara de tarado, não são agressores natos e estão muito próximos”.

“O pedófilo frequenta os lugares onde há muita criança, gosta de comer em fast food, lê coisas de criança, dá presentes e joga videogame. Geralmente, ele não teve uma infância bem resolvida. Tem uma vida meio infantil também, e estar naquele meio facilita pegar a sua presa”, diz a delegada.

Segundo a historiadora e socióloga Adriana Miranda, as redes de exploração sexual também fazem uso de atrativos para se aproximar das crianças. “O que tem se observado é que dentro da rede de exploração a pessoa que se aproxima da criança é sempre uma mulher bem vestida, que tem carro, celular e aparelho MP3.”

Para a psicóloga Karen Michel Esber, o autor de violência sexual usa várias formas para se aproximar da vítima: desde a sedução até a força física. A especialista chama a atenção para a educação das crianças. “Se houvesse mais conversa, existiria menos abuso”, afirma a psicóloga ao ressaltar que as crianças deveriam ser educadas para prevenir, identificar e avisar alguém de confiança sobre o assédio, inclusive quando ocorre dentro de casa.

De acordo com a especialista, as crianças precisam saber distinguir situações de assédio e estar preparadas, inclusive, para a tentativa de abuso familiar. “Esse toque que meu pai está fazendo, não é o de que eu gosto. Então eu vou falar com a minha mãe que, naquele dia, me disse que se eu sentisse o que não gosto, eu deveria falar com ela.”

A orientação da psicóloga Mônica Café é que os pais conversem mais sobre sexualidade com seus filhos e trabalhem a autonomia da criança. “O que vai impedir o abuso é a autonomia da criança. Ela vai ter que dizer não. Os autores de violência sexual vão às crianças que são mais frágeis.”

Karen Asber confirma que a iniciativa e o protagonismo das crianças podem salvá-las. Ela se lembra de uma entrevista que fez com um pedófilo preso em Goiânia que afirmou: “você acha que eu abuso de qualquer menino? Eu abuso do quietinho e reprimido. O espertinho vai contar”.

De acordo com Valéria Brain, também psicóloga, o comportamento da criança muda após o abuso. “Piora o rendimento escolar, ela passa a ter medo de certos adultos, tem pesadelo, regressão de comportamento [como fazer xixi na cama] ou pode até mesmo ficar com a sexualidade exacerbada.”

A psiquiatra do Hospital Universitário de Brasília (HUB) Lia Rodrigues Lopes admite que as vítimas de violência sexual têm mais riscos de desenvolver transtornos mentais, como depressão, humor bipolar e ansiedade, e, no futuro, reproduzir os abusos. “Existe uma maior chance, sim, de o pedófilo de hoje ter sido a vítima no passado”, afirma.

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