Mais de 1,9 mil crianças e adolescentes foram encaminhados nos últimos quatro anos aos conselhos tutelares e varas da Infância e da Juventude pela Polícia Rodoviária Federal (PRF). Segundo o diretor-geral da PRF, Hélio Cardoso Derenne, esses jovens, transportados ilegalmente nas rodovias federais, estavam sujeitos à adoção ilegal, ao trabalho escravo, à exploração sexual e até ao tráfico de órgãos.
O número de crianças em situação de risco encontradas pela PRF tem crescido anualmente. De acordo com os dados apresentados hoje (8) em audiência na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Crianças e Adolescentes Desaparecidos da Câmara dos Deputados, em 2006 foram encontradas 322 pessoas; em 2007, 469; em 2008, 663; e até setembro deste ano, 468 crianças ou adolescentes.
Nesses anos, mais de 1,2 mil pessoas foram presas como transportadores e aliciadores de crianças e adolescentes.
O combate a esse tipo de crime sofre, no entanto, com as limitações de atuação da Polícia Rodoviária. “Infelizmente as demandas são muito superiores à nossa massa operacional, ao nosso efetivo disponível”, disse à Agência Brasil o chefe da Divisão de Combate ao Crime da PRF, inspetor Giovanni Di Mambro. O inspetor declarou à CPI que é comum a polícia ter de escolher qual investigação irá conduzir.
Entre 1996 e 2009, a frota de veículos em circulação nas rodovias federais mais que dobrou (crescimento de 105,4%, segundo a PRF); a malha viária atendida cresceu em 66%; e o efetivo policial menos de 1% (0,9%). “Nós temos dados dos últimos 15 anos, mas se for ver desde 1980 não cresce o efetivo”, informou o inspetor Giovanni.
A PRF conta hoje com aproximadamente 9,2 mil policiais que trabalham na fiscalização e no atendimento a ocorrências nas estradas, com educação para o trânsito e combate ao crime. Há em todo o país 577 pontos de fiscalização, que têm, em média, dois policiais de plantão.
A PRF deverá encaminhar à CPI sugestões para melhorar a atuação em casos de desaparecimento de crianças.
Durante a audiência, Hélio Cardoso Derenne assinalou a necessidade de contar com mais equipamentos que fazem a filmagem e o registro da circulação de carros, caminhões e ônibus nas rodovias e permitem a identificação de cada veículo. “Segurança pública se faz com tecnologia, as rodovias federais não são monitoradas”, disse aos deputados. Segundo ele, esses equipamentos só estão disponíveis em algumas rodovias do Sul e Sudeste.
Além de tecnologia, a cúpula da PRF aponta a necessidade de maior integração com a Polícia Federal, as polícias civis e as policias militares dos estados. Derenne ainda sugeriu a fixação de cartazes em caminhões com os rostos da crianças e adolescentes desaparecidos. O inspetor Giovanni concordou com a necessidade já apontada pela CPI de se criar um banco de dados com informações sobre pessoas desaparecidas.
As rodovias federais têm um total de 66 mil quilômetros. Aproximadamente 87% da riqueza nacional transita por essas estradas. Só este ano, foram feitas 328 ocorrências de roubo de carga (145 tiveram recuperação) e 171 assaltantes foram presos. Oitenta por cento dessas ocorrências foram na Região Sudeste. O telefone de atendimento da Polícia Rodoviária Federal é o 191.