É um ato heróico o sofrimento que as crianças da zona rural tem de enfrentar para chegar a escola. Atoleiros, estradas em más condições de tráfego, veículos inadequados, crianças que passam até 8 horas por dia dentro de um ônibus para conseguir chegar à escola. Essa foi realidade encontrada por 30 pesquisadores do Centro de Formação de Recursos Humanos em Transportes da Universidade de Brasília (Ceftru/UnB).
Eles percorreram 50 mil km para testar os ônibus escolares que são fornecidos a municípios da zona rural pelo programa Caminhos da Escola, do governo federal. O relatório final, entregue hoje (3) ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), sugere algumas mudanças nos veículos para garantir mais segurança e conforto aos alunos, conforme publicado na Agência Brasil:
A equipe foi acompanhada por representantes indústria responsável pela produção dos veículos. Por esse motivo, os próximos modelos já seguirão as recomendações dos pesquisadores. Entre as principais delas, estão a melhoria do sistema de ventilação, vidros escurecidos para melhorar o conforto interno, vedação de buracos para impedir a entrada de poeira e nova localização para as portas de acesso.
“Também aumentamos a altura do veículo em relação ao solo para facilitar a transposição de obstáculos, colocamos o pneu de uso misto, também próprio para a terra. Ele também tem um bloqueio que não trafega com a porta aberta e nem acima da velocidade de 70 km/h”, explicou o gerente da pesquisa, Willie Carvalho.
Outro problema identificado foi a falta de manutenção preventiva dos veículos. “A assistência técnica das montadores ainda é restrita em determinadas regiões do país. É preciso levar ela a outros locais para garantir que o veículos em dois ou três anos não estejam mais em condição de trafegar.”
A pesquisa analisou 53 rotas em 16 municípios. Em quase 92% delas, há “eventual” ou “constante” ocorrência de defeitos na estrada. Carvalho apontou que a melhoria das vias é essencial para reduzir o tempo das viagens.
“As crianças passam muito tempo dentro dos ônibus, às vezes quatro horas para ir a escola e mais quatro para voltar. Isso é muito influenciado pela condição da via. O processo de capacitação de quem faz a manutenção dessa via também precisa ser melhorado”, afirmou Carvalho.
O coordenador-geral do Caminhos da Escola, José Maria Souza, disse que as alterações propostas serão consideradas nas próximas ações do programa. “Na medida em que o aluno fica muito tempo em um veículo que não são adequados, essas mudanças podem melhorar muito o processo de ensino e aprendizagem”, acredita.