Brasília – Ao analisar o Brasil Alfabetizado, um dos programas previstos no Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), a coordenadora de programas da Organização Não-Governamental (ONG) Ação Educativa, Vera Masagão, considerou que o Ministério da Educação (MEC) deveria priorizar o ensino regular na educação de jovens e adultos.
O programa prevê que o jovem ou o adulto analfabeto se alfabetize primeiro para depois ser encaminhado a turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) e continuar os estudos.
Segundo a coordenadora, em alguns municípios, os cursos do Brasil Alfabetizado ainda são ministrados por professores leigos, por meio de um esquema de duas horas de aula por dia, durante um período de oito meses. A estratégia, segundo ela, não garante que o aluno se mantenha na escola posteriormente.
“Pelos indícios que a gente tem, essa passagem [da alfabetização para o EJA] não se realiza. O que o aluno consegue aprender com o professor leigo é muito pouco e não se garante a continuidade. Precisa investir diretamente na escola para adultos e não numa campanha de alfabetização. Precisa ampliar o atendimento de EJA”, defendeu.
Vera Masagão destacou que cerca de metade dos jovens e adultos atendidos pelo programa Brasil Alfabetizado não são, de fato, analfabetos, mas analfabetos funcionais. São pessoas capazes de ler textos, sem saber interpretá-los.
“O problema não é só o fator diagnóstico [se a pessoa é ou não analfabeta]. Às vezes, não tem o sistema Educação de Jovens e Adultos (EJA) no município”, constatou.
Outra falha apontada pela especialista é o pagamento efetuado aos professores responsáveis pela alfabetização. Eles recebem bolsas referentes a cada grupo de jovens ou adultos atendidos e, por conta disso, segundo ela, “não têm interesse em se desfazer dos alunos que conseguem matricular”. Para ela, o ministério deveria inserir os alunos já na primeira série do EJA para que o professor não precise atendê-los fora do horário, e, sim, dentro da própria grade de trabalho.
A assessoria do MEC informou que não trabalha mais com professores voluntários, uma vez que todos os professores do Brasil Alfabetizado já foram capacitados. Entretanto, em nota encaminhada à Agência Brasil, o MEC informou que uma das metas para 2008 é fazer com que 75% do quadro de alfabetizadores seja composto de professores das redes públicas, estaduais e municipais.
Ainda de acordo com a assessoria, o MEC considera que a condição de analfabeto funcional é igualmente grave à de analfabeto e, que as pessoas que sabem ler textos, mas não conseguem compreendê-los, também devem ser assistidas pelo programa.
Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil