Agência Lusa
Lisboa (Portugal) – Os professores brasileiros podem tornar-se a opção mais viável para garantir a adoção da língua portuguesa como primeiro idioma estrangeiro na Venezuela, reconheceram hoje (28) à Lusa agentes culturais portugueses residentes naquele país.
A opção brasileira decorre da incapacidade financeira de Portugal em enviar professores para a Venezuela, como informou quarta-feira (26) à Lusa o vice-ministro português de Relações Exteriores e Cooperação, João Gomes Cravinho.
Em causa está o anúncio das autoridades venezuelanas no lançamento de um programa-piloto que integra a língua portuguesa como disciplina opcional no currículo oficial do próximo ano letivo.
Portugal tem que, “nos próximos dois ou três meses, saber responder a este desafio”, salientou Cravinho.
O programa-piloto será executado em 14 escolas do estado de Carabobo, uma importante localidade situada 250 quilômetros a oeste de Caracas [capital venezuelana].
Contudo, a falta de professores poderá condicionar o desenvolvimento da iniciativa, disseram à Lusa, em Caracas, fontes relacionadas com o processo.
Para João Costa Lopes, vice-presidente do Instituto Português de Cultura (instituição criada em 1990, em Caracas), “a iniciativa venezuelana é excelente” e para a sua concretização “é obrigação do Estado português enviar professores”. “Isso não está a ser feito à luz das necessidades que existem”, acrescentou.
João Gonçalves, presidente do Centro Português de Caracas, que completa no dia 13 de junho 50 anos de existência, o envio de professores portugueses “seria uma boa solução”.
“Se não puder enviar 20, que mande 10. Já era um começo”, destacou, garantindo o apoio da comunidade portuguesa residente na Venezuela para o acolhimento e integração dos docentes que seriam enviados de Portugal.
Contudo, alertou, “o ensino da língua portuguesa não deve ser restringido a Caracas, mas alargado a todo o país”, frisou João Gonçalves.
Todavia, Portugal não tem dinheiro disponível para apoiar a iniciativa das autoridades venezuelanas, como reconheceu João Gomes Cravinho, apesar de salientar que o Estado português tem de responder ao desafio.
“Não podemos deixar fugir estas oportunidades. É evidente que se falharmos nesta fase dos projetos-piloto, se a língua portuguesa falhar, não por qualquer desinteresse por parte dos venezuelanos no idioma, mas por incapacidade do Estado português, não estaremos a responder à altura das nossas necessidades”.
A solução poderá passar então pelos docentes brasileiros, resultado não só da proximidade geográfica da Venezuela e Brasil, mas sobretudo do envolvimento das autoridades brasileiras na promoção e difusão da língua portuguesa.
Um exemplo da maior capacidade brasileira é dado pelo curso de cinco anos ministrado na Escola de Idiomas Modernos, da Universidade Central de Venezuela (UCV), em que a par do único leitorado português existem cinco brasileiros, para os cursos de Língua e Cultura Portuguesa, que no ano atual letivo tem inscritos 166 estudantes.
Para reforçar a formação dos futuros professores de Língua Portuguesa, o Instituto Camões (IC) vai inaugurar em breve um Centro de Língua Portuguesa, disse também hoje à Lusa Simonetta Luz Afonso, presidente da instituição.
“Com o objetivo de contribuir para a criação, na UCV, de um corpo de docentes venezuelanos na área dos Estudos Portugueses, o IC subsidia, ainda, a docência da língua portuguesa por um professor local, nos termos do protocolo de cooperação celebrado com a universidade”, concluiu.