Muito custou a criar!
Quase que morreu de fome,
Com preguiça de mamar.
Preguiça, já crescidinha,
Quando por seu pé andava,
Não era andar! mais par´cia
Que toda se espreguiçava…
Preguiça foi à lição:
Ler, escrever e contar?
Deixava a memória em casa,
Com preguiça de a levar!
Preguiça, foi confesar-se:
“Fez exame de consciência?”
“Não fiz, meu padre! mas faço-o
Amanhã … Tenha paciência.”
Preguiça aprendeu costura:
Mas, sempre que costurava,
Só para não pôr dedal,
Sempre os seus dedos picava.
A mãe ralhou à Preguiça
Porque se não penteara;
Torna-lhe ela: “Há quantos dias
É que a mãe não lava a cara?”
Preguiça, morta de sono,
Quase de sono morria:
Só por não fechar os olhos,
Quantas noites não dormia!
A Preguiça, muito a custo,
Fez a cama, e se deitou;
Para não mais a fazer,
Nunca mais se levantou.
A Preguiça abria a boca,
Coisa em que ela era mais certa:
Mas depois – p´ra não fechar –
Ficou sempre “Bôca-aberta”.
A Preguiça e o Desmazelo
Juntaram-se em casamento:
Levando os dois, em bom dote
Uma mancheia de vento.
Preguiça teve dois filhos:
Oh que santa geração!
A mais velha, Dona Fome;
O mais novo, Dom Ladrão.
Quando a Preguiça morrer;
Até o monte maninho,
Até fraguedos da serra
Darão rosas, pão, e vinho.
Esta poesia de Antônio Correia de Oliveira
foi criada em 1879
(Foto: Flickr – Jupisa)