Uma das dificuldades no combate ao analfabetismo é encontrar professor formado para a difícil e honrosa missão de alfabetizar.
A professora Ana Cristina Araújo fala com orgulho sobre seus alunos da turma de alfabetização. São donas de casa e trabalhadores que se reúnem todas as noites para o desafio de voltar à sala de aula. As dificuldades para motivar turmas de educação de jovens e adultos são muitas, mas ela não pensa em abandonar o trabalho que realiza há cinco anos. “A gente não está aqui pelo dinheiro, isso é o de menos. A conquista dos alunos é o gratificante”, conta, conforme artigo intitulado “MEC não consegue atrair professores formados para trabalhar em turmas de alfabetização”, escrito por Amanda Cieglinski e publicado na Agência Brasil:
Se sobra boa vontade à professora, falta formação. Ana Cláudia tem o ensino médio completo e já participou de alguns cursos de capacitação, mas espera um dia chegar ao ensino superior. Como ela, boa parte dos professores que trabalham em turmas de alfabetização não tem formação específica.
Para a especialista da Universidade de São Paulo (USP) Maria Clara Di Pierro, o fato de muitos alfabetizadores ainda terem uma formação básica compromete o processo de aprendizagem.
“Ensinar a ler e escrever não é uma tarefa que qualquer pessoa pode executar. Motivação, boa vontade e inserção na comunidade são atributos necessários, mas não são suficientes”, avalia.
Em 2007, ao anunciar mudanças no programa Brasil Alfabetizado, o Ministério da Educação (MEC) estabeleceu a meta de que pelo menos 75% dos alfabetizadores deveriam ser professores da rede municipal ou estadual.
Mas, segundo o secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC, André Lázaro, isso não vem sendo cumprido. Uma das justificativas apontadas por ele é o baixo valor da bolsa paga aos professores, de R$ 250 a R$ 275 mensais por turma.
“Não estamos conseguindo manter esse percentual. O valor da bolsa ainda é muito baixo, vamos ver se para frente é o caso de aumentar. Mas nós temos um projeto de capacitação de alfabetizadores na formação inicial e continuada. Essa é uma das nossas preocupações com o programa hoje”, afirma.
Maria Clara Di Pierro ressalta que a educação de jovens e adultos não ocupa o lugar que deveria nem mesmo nas faculdades de pedagogia das melhores instituições de ensino superior do país. “Mesmo nas universidades de ponta, a educação de adultos não está no currículo. E, quando existe, é uma disciplina optativa, como é aqui na USP, ainda marginal na formação. Você não tem um sistema de formação permanente e continuada nesse campo”, alerta.
Para o professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF) Osmar Fávero, as dificuldades comuns em uma turma de alfabetização podem ser potencializadas se não houver um profissional com formação adequada dentro da sala de aula.
A maioria dos professores do Brasil Alfabetizado é voluntária. Você tem muito problema de material didático inadequado na mão de um professor que é mal preparado, que ganha pouco, que não tem um lugar adequado para trabalhar com um público cansado que trabalha o dia todo, não se pode esperar uma ação eficaz”, analisa.