O médico pediatra e mestre em educação, Jorge Montardo, em seu blog Aprendendo Vida, cita uma frase que é muito marcante:
“Aliás, penso que ameaçar uma criança com injeção, por exemplo, deveria ser incluído na relação de crimes hediondos.”
Segundo o médico e autor do post:
O relacionamento entre o pediatra e seus pacientes evolui por várias etapas, cada uma com características diferentes, e o papel dos pais neste processo é fundamental.
Nos primeiros meses, os encontros vão depender do estado de espírito do bebê no momento da consulta. Às vezes, é tranqüilo e sem reclamações. Em outras oportunidades, o choro é constante, principalmente quando desencadeado por fome, sono ou simplesmente mau humor.
No segundo semestre, a maioria das crianças começa a estranhar pessoas que não pertencem ao seu círculo familiar, inclusive os avós que não moram na mesma cidade e, é claro, o pediatra. Mas, mesmo neste período, algumas consultas são ótimas, porque a criança já é mais participativa, procura chamar a atenção e interagir durante a consulta.
No segundo ano, as consultas geralmente são mais conflituosas. Algumas crianças já entram no consultório chorando e negam-se terminantemente a permitir o exame. Este é um comportamento esperado, pois estão surgindo as primeiras características de independência e com elas certa insegurança e ansiedade. Nada mais natural que ocorra uma reação de autoproteção contra um contato que vai provocar uma invasão em sua privacidade.
Se tudo correr bem, com o passar do tempo, o relacionamento entre o pediatra e a criança se consolida. As consultas transformam-se em momentos de descontração e alegria quando a criança está bem e, se está doente, há a certeza de que ela está ali para receber ajuda. Se os pais querem ver um pediatra feliz é contar que a criança pediu para ir ver o doutor, ou dizer que foi ela que decidiu telefonar para fazer uma pergunta ou relatar algum problema, evidenciando uma clara manifestação de confiança.
Todo este processo leva tempo e exige avanços e recuos, a determinação dos limites da privacidade, o respeito aos medos e à ansiedade da criança.
Mas o sucesso deste relacionamento não depende só do pediatra e de seus pacientes. Os pais são figuras importantes na consolidação desta amizade. E uma das maiores contribuições que podem dar é não fazer e nem permitir que qualquer outra pessoa faça ameaças em relação ao pediatra. Ir consultar, fazer vacinas ou qualquer outro tratamento nunca é castigo.
Aliás, penso que ameaçar uma criança com injeção, por exemplo, deveria ser incluído na relação de crimes hediondos.