Brasília – O aleitamento materno é a primeira maneira de prevenir a obesidade, que na sua forma mais grave (obesidade mórbida) cresceu mais de 250% entre a população brasileira nas últimas quatro décadas. A informação é do nutricionista Fábio da Silva Gomes, da área de Alimentação e Nutrição do Instituto Nacional do Câncer (INCA), um dos responsáveis pela divulgação no Brasil de um relatório internacional no qual foram avaliados mais de 90 estudos realizados em várias partes do mundo sobre amamentação e fatores de risco ligados à obesidade.
O conjunto de estudos foi incluído entre outras sete mil pesquisas a respeito de nutrição, atividades físicas e prevenção de câncer, já que a obesidade está fortemente associadas a pelo menos seis tipos de tumores.
Segundo ele, até pouco tempo, a amamentação era recomendada por ajudar a proteger a criança contra infecções, no entanto, estudos recentes revelaram que o aleitamento materno também reduz as chances de obesidade na infância, e conseqüentemente, na idade adulta.
“Os estudos descobriram que entre as crianças que recebiam só o leite materno durante os seis primeiros meses de vida, a chance de se tornarem obesas durante a infância era muito menor. E isso é importante porque o excesso de peso durante a infância tende a se estender à idade adulta”, destacou o nutricionista.
Segundo ele, a mãe que amamenta até os seis meses está diminuindo a chance do seu filho se tornar uma criança e um adulto obeso, além de se proteger contra o câncer de mama. E alertou: “É comum vermos mães que têm boa condição financeira, mas trabalham muito e optam por não amamentar a criança, começando desde o início com uma alimentação com leite em pó, papinha. Isso pode provocar a obesidade que vai gerar um problema futuro para a criança “.
O aumento de 255% na obesidade mórbida entre a população brasileira ,de 1975 a 2003, foi apontado por um estudo das Universidades de Brasília (UnB) e de São Paulo (USP) divulgado na semana passada. De acordo com pesquisa, a parcela de pessoas acima dos 20 anos com obesidade mórbida passou de 0,18% em 1975, para 0,33% em 1999 e para 0,64% em 2003.
De acordo com Gomes, outras descobertas científicas mostraram ainda que bebês nascidos abaixo do peso normal e crianças que não ganham o peso adequado durante a infância apresentam uma espécie de programação no organismo que favorece o aparecimento de doenças crônicas como a obesidade, hipertensão e diabetes.
Ele conta que os primeiros experimentos começaram com ratos que passavam por grandes restrições alimentares na infância e depois, quando tinham alimento à vontade, aumentavam muito mais de peso do que os outros com alimentação suficiente no primeiro período de vida. “É como se estivessem tentando recuperar algo que deixaram de consumir, uma espécie de compensação,” explicou. Fábio da Silva Gomes ressalta, porém, que crianças dentro do peso previsto ou acima dele podem estar mal nutridas, já que nem sempre a condição física mostra a realidade nutricional.
Dados da Pesquisa de Orçamento Familiar, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que dos 95,5 milhões de pessoas com 20 anos ou mais, 38,8 milhões tinham excesso de peso, dos quais 10,5 milhões eram obesos, e aproximadamente 6% deles eram obesos graves. A maior incidência da obesidade mórbida foi observada nas regiões sul e sudeste do país entre as mulheres, onde o percentual foi de 0,95% contra os 0,32% registrados entre os homens.
Adriana Brendler
Repórter da Agência Brasil