Há poucos dias, assisti um Globo Repórter sobre Singapura, um país que há 40 anos tinha bastante pobres e atualmente só tem ricos, milionários e bilionários. Lá, ensinam educação financeira para as crianças a partir dos 7 anos de idade. As crianças aprendem que mais vale poupar e saber gastar o dinheiro, quando for comprar alguma coisa, do que desperdiçar comprando coisas sem necessidade, usando apenas a emoção.
Algo semelhante, claro que não tão perfeito quanto o que é feito em Singapura, está sendo realizado experimentalmente em 450 escolas estaduais do Ceará, de Minas Gerais, do Rio de Janeiro, de São Paulo, do Tocantins e do Distrito Federal. E o resultado foi tão surpreendente que permitiu aos pesquisadores do Banco Mundial (Bird) afirmar que o ensino de educação financeira em escolas pode influenciar os pais a aumentar a poupança interna e a combater a inflação.
Os alunos começaram a poupar mais e a planejar melhor as compras, já nos primeiros seis meses do curso. Antes do programa, o percentual dos estudantes que faziam poupança passou de 44% para 49%, entre agosto e dezembro de 2010. Já os que faziam lista de compras passou de13% para 16%. Até o fim do ano, quando termina o programa, este percentual poderá sofrer alterações.
Segundo o especialista do banco Rogeli Marchetti, o resultado chama atenção porque a mudança de comportamento nos cerca de 12 mil estudantes que participam do programa Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef) ocorreu em apenas seis meses, um prazo considerado curto. “O resultado também é positivo quando comparado com escolas que não receberam as aulas [de finanças pessoais]”, acrescentou, conforme Agência Brasil/ Isabela Vieira.
O Bird continuará a avaliar o aprendizado dos estudantes até o fim do projeto e pensa, inclusive, em acompanhá-los no mercado de trabalho, por meio do número do CPF. Para os pesquisadores, o comportamento dos jovens no longo prazo permitirá comprovar como a educação financeira pode se refletir em dados macroeconômicos.
“Dentro do país isso tem relevância, principalmente, no contexto de crescimento da classe média, que está entrando no mercado e precisa entender os produtos financeiros”, afirmou Rogeli Marchetti. Com esses conhecimentos, o Bird avalia que a classe média pode impulsionar um “ciclo virtuoso” na economia, com incentivo à poupança e à redução do consumo.
Os pesquisadores também esperam que os jovens influenciem o planejamento financeiro familiar, acelerando o processo de educação financeira na população. Por isso, o Banco Central e o Ministério da Educação, dentre os organizadores do programa, já discutem como ampliar a iniciativa para outras escolas, por meio de uma comissão com mais três ministérios.
Durante apresentação da pesquisa, hoje, o representante do Ministério da Educação Sergio Jamal Gotti disse que o grande desafio é envolver as redes de ensino. “Não há intenção de criar uma disciplina separada”, disse. Porém, acrescentou que estratégias como criação de páginas na internet e de material didático próprio podem ser usadas para chamar a atenção de professores e gestores.
O projeto de educação financeira no Brasil também foi bem avaliado pelo diretor do Bird para o Brasil, Maktar Diopp, que tem a intenção de levar o curso para outros países. Diopp destacou que o diferencial do programa é fato de o curso ser aplicado no ensino formal. “Não é à toa que a carteira do Bird no Brasil é a maior do mundo. Queremos exportar experiências inovadoras assim”, afirmou.
As aulas de educação financeira em turmas do segundo ano do ensino médio de 450 escolas integram o projeto piloto do Banco Central, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), da Superintendência de Seguros Privados (Susep) e da Superintendência Nacional de Previdência Complementar, em parceria com o Bird, o Ministério da Educação e o Unibanco.
Os resultados parciais da pesquisa sobre a aplicação da estratégia foram apresentados durante o encontro de avaliação do Enef, no Centro de Convenções da Bolsa, no Rio de Janeiro.