O alto índice de desnutrição entre as crianças do Amazonas está preocupando as autoridades de saúde do estado, conforme matéria publicada na Agência Brasil/Amanda Mota:
Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde (Susam), 8,5% das crianças menores de cinco anos de idade que moram na capital são consideradas desnutridas quando avaliadas na relação peso e altura. No interior do Amazonas, o índice é maior e atinge 11,5% dos meninos e meninas na mesma faixa etária. Em todo país, Norte e Nordeste lideram as estatísticas de desnutrição, que está diretamente associada a 50% das mortes de crianças com até cinco anos em todo o mundo.
Para a pediatra e nutróloga do Instituto de Nutrologia do Amazonas, Silvana Benzecry, existe um descompasso entre as riquezas naturais amazônicas e o que pais e responsáveis estão oferecendo às suas crianças, sobretudo até os cinco anos de idade.
“A desnutrição no Amazonas tem sido verificada por causa da inadequação alimentar. Não é que o estado não possua os produtos adequados. O que ocorre é que as nossas crianças não estão consumindo as quantidades necessárias de minerais, vitaminas e proteínas que justifiquem e melhorem o estado nutricional de um modo geral. Ela estão adoecendo exatamente por esse descompasso que precisa ser corrigido urgentemente”, disse Benzecry.
De acordo com a nutróloga, o baixo índice de aleitamento materno exclusivo, o consumo precoce de alimentos de baixo valor nutritivo, como os industrializados e os refrigerantes e a chamada “monotonia alimentar”, ou seja, repetição dos mesmos alimentos no cardápio diário, contribuem para a desnutrição. Ela lembrou que frutas como a pupunha e o camu-camu – típicas da região amazônica – são menosprezadas em seu potencial nutritivo e, por desconhecimento da população, deixam de ser consumidas e também oferecidas em forma de papinhas e de sucos às crianças a partir dos seis meses de vida.
“Manaus, por exemplo, possui o quatro maior PIB [Produto Interno Bruto] do país e índices preocupantes de desnutrição entre suas crianças. É preciso ver o que está faltando, já que o estado possui uma riqueza bela e farta de alimentos. Várias pesquisas feitas no Inpa [Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia] comprovam o potencial nutricional dos nossos produtos”,disse ele.
Silvana também citou a presença de altos teores de sal e gordura trans presentes nos alimentos industrializados, cada vez mais consumidos pelas crianças. “O que estamos precisando é fazer um intercâmbio entre esses conhecimentos e uma ação local. Acho que precisamos fazer uma rede e viabilizar a chegada desse conhecimento onde é necessário, trabalhando com governos, agentes comunitários, profissionais de saúde da família, para que se mostre quais são os produtos ideais para a alimentação das crianças”, ressaltou.
A nutricionista e coordenadora estadual de Alimentação e Nutrição, Ester Mourão, também relacionou o problema ao baixo grau de instrução de pais e responsáveis. Para ela existe uma relação direta entre a desnutrição e o analfabetismo da mãe.
“Quando a mãe é analfabeta o risco de desnutrição é três vezes maior. Por isso a importância das ações intersetoriais, mas para isso os órgãos públicos precisam de organizar. E é isso que a gente pretende fazer com esse plano”, declarou.
Na região Norte do país, Acre, Amapá, Pará e Amazonas são os estados com os maiores índices de desnutrição infantil.
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