Antigamente, quem fazia parte de um tribo indígena era considerado uma pessoa sem vícios, um ser puro. Atualmente as coisas já não são bem assim.
Segundo o cacique Manoel Nery Tikuna, que chefia a Aldeia Umariaçu 2, no município amazonense de Tabatinga o consumo de cachaça e cocaína está aumentando a violência entre jovens.
e o cacique disse que os jovens estão se dividindo em grupos, formando gangues dentro da aldeia e partindo para a briga.
Uma matéria escrita por Vladimir Platonow, enviado especial da Agência Brasil, diz:
“Alguém entrou com esse produto [cocaína] e falou para o que servia”, diz o líder tikuna, em entrevista à Agência Brasil e à TV Brasil. “Aí, quem comprou e experimentou, já foi levando para outro colega para prejudicar. Daí é que vem a violência. Se matam e brigam entre eles. Usam pau, espingarda, garrafa, pedra. É um problema muito sério.”
O cacique diz que os grupos atuam contra os outros. “Se a pessoa não corre, vão para cortar, para matar”, relata. “Nós perdemos dois rapazes assim. Jogaram no igarapé e o corpo ficou boiando.”
O efeito da entrada de drogas na Umariaçu 2 repercute nas relações familiares e nem a família do cacique escapa. “Está trazendo muito sofrimento. Muito mesmo”, diz Manoel Nery. “Um dos meus seis filhos está querendo entrar [nas drogas], mas eu falei muito com ele e agora está um pouco afastado. Outro filho levou uma facada nas costas, como vingança contra mim, porque eu falo contra as drogas.”
Segundo o cacique, os jovens da aldeia compram bebida alcoólica e colocam o pó da droga dentro, o que provoca efeitos imediatos e mudanças radicais de comportamento. “O pensamento mudou e não respeitam mais ninguém. Cheiram cola, também cheiram gasolina”, comenta.
Para o cacique, a atuação da Fundação Nacional do Índio (Funai), responsável pelas políticas públicas para os indígenas em todo o país, está longe do necessário para resolver a situação: “A Funai não faz nada. Só o que faz é demarcar área junto com o governo federal e fazer a fiscalização.”
O chefe da aldeia diz que já foi até à Polícia Federal (PF) para denunciar a situação na aldeia, mas não conseguiu ajuda. “Falei com o delegado Eduardo [Primo], na Funai, e ele disse que a Polícia Federal não estava no município para prender quem bebe cachaça”, conta. A assessoria de imprensa da PF informou que um dos dois delegados que poderia falar sobre o assunto estava em missão, e o outro, em Manaus. Marcou entrevista para amanhã (19).
Para Manoel Nery Tikuna, o que leva os jovens ao uso de álcool e drogas e a se envolver em brigas violentas é a falta de perspectiva de futuro, depois que terminam o ensino médio, oferecido na aldeia: “Eles concluem o ensino médio e não têm profissão, não têm trabalho nenhum. Não têm ajuda dos políticos para estudar fora, na capital ou em outro país. Não têm bolsa na universidade. Então a gente está sem caminho, enquanto a comunidade está sofrendo”.