Adultos voltam a estudar Itambé e se sentem felizes como crianças

“Nunca é tarde para aprender e enquanto vida eu tiver, vou seguir aprendendo”. Este era o sentimento do trabalhador rural João Soares, 79 anos, na solenidade de formatura da primeira turma do Topa – Todos pela Alfabetização no município de Itambé, a 560 quilômetros de Salvador.

A emoção e a esperança foram compartilhadas por todos os 1,2 mil alfabetizados na cerimônia que oficializou a conquista do direito de saber ler e escrever, no último dia 21. Até julho, quando se encerra a etapa de 2007 do programa, o Topa estará formando mais de 220 mil baianos com 15 anos ou mais. A meta é alfabetizar 1 milhão de pessoas até 2010.

Assim como João, José, 58 anos, confessou a emoção de poder escrever o próprio nome e assim conquistar maior independência: “Era muito ruim ter que pedir a outras pessoas para ler as coisas para mim. Quando a gente não sabe ler, a gente é um cego”. Com um sorriso, completou: “Agora eu enxergo”.

A felicidade também estava estampada no rosto de dona-de-casa Osvaldina Fernandes. Aos 64 anos, ela cria três netos e, mesmo assim, freqüentou as aulas. “Nem meu nome eu conseguia fazer, mas hoje eu faço”, afirmou.

Histórias como essas se misturaram a de alfabetizadores e coordenadores que abraçaram o Topa e contribuíram com o programa. Para a alfabetizadora Velúsia Dias, o trabalho com idosos exige criatividade. “Você compete com família, filhos, netos e trabalho. É muito mais difícil prender a atenção deles, mas, ao mesmo tempo, é gratificante”, declarou.

A maioria dos alunos do Topa em Itambé são idosos. O programa trabalha com a alfabetização sob a perspectiva de que este é um direito do cidadão que não prescreve com a idade.

Relações sociais favorecidas

O Topa vai além do aprender a escrever o nome. Por meio da alfabetização, as relações sociais são favorecidas. As pessoas se tornam mais seguras, têm a auto-estima elevada no próprio dia-a-dia.

“É incrível ver a alegria delas diante da possibilidade sugerida pelo programa. O sorriso aparece desde o momento do recebimento do material didático à hora da merenda, à escrita da primeira letra”, disse Velúsia. Tudo é pensado de acordo com as demandas. Até a merenda é diferenciada para os alunos com problemas de diabetes e hipertensão.

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